A Irmandade dos Rosário é uma comunidade negra e atua informalmente preservando a cultura e as tradições da família Aviz do Rosário, originária dos Campos de Bragança - nordeste do Pará. Parte da família veio para a zona metropolitana de Belém através dos fluxos migratórios, mas mesmo na cidade tentam manter os costumes de sua cultura de origem.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Memórias da Marujada, por Alzira do Rosário.

Analia foi a primeira de nós a sair de Maruja (arquivo de família).
 
Roberta Luciana seguiu o exemplo da prima e foi pioneira das Marujas (arquivo de família).

Todos os anos a Irmandade dos Rosário faz questão de se deslocar de Belém, Ananindeua e Marituba para participar das festividades de São Benedito, e à cada ano um amigo se junta a nós para acompanhar o cortejo do santo. Este ano foram o Genilton, o Fabrício e o Zezinho que compartilharam conosco a alegria de ser Marujas ou Marujos na procissão do santo preto.

Marujos do Rosário com amigos na pocissão (foto de Laíza Maria Santos).
 
Não posso dizer com precisão quem foi a primeira Rosário a ser Maruja, mas na minha memória é a Xandu ainda jovem, eu lembro que ela teve um problema na garganta e fez uma promessa pra São Benedito.
Nós morávamos nos 'Campos de baixo', e por lá o tratamento era com remédios tradicionais, que eu não sei o porquê que custou muito a sarar, foi aí que ela resolveu ir pra Bragança atrás de tratamento na medicina de doutor, tomou antibiótico, andou em posto médico e passou um tempo na cidade. Foi por essa época que ela fez uma promessa: que se ela ficasse boa, enquanto fosse viva sairia de Maruja na procissão do Benedito.
A Xandu fez a promessa mas teve dificuldade com a indumentária, pois o chapéu é caro, foi quando mamãe Maxica, tia da Xandu e matriarca da irmandade dos Rosário, mesmo sem nunca ter feito um chapéu de Maruja, se apresentou como artesã e presenteou a sobrinha com a indumentária necessária para pagadoras de promessas.
Prima Xandu (sentada) de Maruja nas festividades de 2011 (Foto de Zezinho Liberato Nogueira).
Hoje, quase aos setenta anos, quando vai chegando dezembro a Xandu tem que mobilizar os parentes próximos para que consiga cumprir a promessa feita. Hoje ela tem a preocupação de um mínimo de segurança para poder deixar a Ilha do Fujão e se deslocar até o centro de Bragança com o conforto e necessário para uma mulher de sua idade acompanhar os festejos de São Benedito. 
Eu com minha sobrinha Renata (foto Laiza Maria Santos)
No meu caso também foi uma promessa, eu fiquei doente e uma colega de trabalho fez a promessa para que eu saísse de maruja por três anos, e me senti na obrigação de cumprir a promessa dos outros. Mas se for pra falar só do povo da Maxica, a primeira mesmo foi a Analia que ainda criança se arrumou de Maruja e acompanhou a procissão, mas ela foi por pura curiosidade. Mamãe fez o chapéu e eu costurei a roupa pra ela.
Maria Luiza se preparando para a procissão (foto Laiza Maria Santos).
Depois disso a presença dos Rosário na procissão virou tradição e todos nós fazemos questão de, em dezembro, oferecer o almoço que Mãe Maxica fazia para o pessoal da esmolação do santo, de costurar nós mesmos as saias e as blusas das mulheres e as roupas dos homens da minha família, de encapar chapéus dos homens e de enfeitar os chapéus das mulheres para no dia 26 de dezembro fazermos bonito na procissão.

Ananindeua, 10 de fevereiro de 2012.

Alzira Aviz do Rosário.



Odiléia com os netos Rafael e Maria Luiza (foto Laiza Maria Santos)

Joice com o filho Bernardo (foto Laiza Maria Santos).



2 comentários:

  1. Que linda lembrança, quando chega dezembro o alvoroço começa e as maruja e os marujos ficam lindos para a procissão de São Benedito, que uma tradição dos Rosário participarem.

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  2. Os Rosário, estão em todos os lugares, parece invisíveis, mas é só olhar para ver nos cantos, recantos e encantos os Rosários encantando.
    Salve glorioso São Benedito!

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